terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Lolita já era.

Como eu mencionei a tal crise da meia idade no post anterior, me peguei pensando nela esses dias. Cheguei à conclusão que, talvez, a crise seja muito mais dos tempos do que de qualquer outra coisa.
Pensemos: os casais que, hoje, se separam, depois de duradouros casamentos, são aqueles que se fizeram numa época totalmente diferente. E, se a época muda, as pessoas mudam junto com ela, e as relações em consequência dela.

Lá pelos anos 60-70, segundo consta, contava, por exemplo, que as mulheres fossem politizadas, ativistas, destemidas. Essas eram as mulheres "casáveis", as melhores. Os caras, por sua vez, tinham que ser líderes, intelectuais e, de preferência, fugitivos da polícia.

Hoje, claramente, tudo mudou. Pra começar, o que move o mundo não é mais a busca pela liberdade... O motor desse mundo é qualquer outra coisa (que eu prefiro nem explorar, pra cada um resolver por si). Mas, é preciso dizer que o que parece não mudar, no entanto, é a cabeca das esposas de antes: pensar, por exemplo, que o fato de ela ser tudo o que ela sempre foi manterá o casamento para sempre, como um dia prometido, é um erro. As ambições do cara vão mudando, galera. Porque elas vêem isso em tantas outras coisas e colocam o relacionamento separado do resto? Aí, criam o mito da "menininha", da destruidora de lares, que ROUBA o maridão delas. Na verdade, na maioria dos casos, num é roubo coisíssima nenhuma: o cara estava na prateleira, pedindo pra ser tomado, e é, por alguém que se interesse. Essa interessada, inclusive, hoje em dia, está muuito distante do perfil "interesseira" que as esposas associam a ela. Como também não é mais o perfil sexo-estampado-na-cara, ou quando-abre-a-boca-o-povo-corre, que está motivando finais de relacionamentos. As que estão levando os maridões são as mais espertas, desenroladíssimas, articuladas, nem necessariamente as mais bonitas (mas, provavelmente, as bem ajeitadas) e, o principal, as mais simples. "Simples", porque não são chatas, não tem as coisinhas cri-cri da mulher do cara, que fica em casa parece que esperando pra encher o saco dele com o que ele fez ou deixou de fazer. Nos vinte-e-poucos, trinta-e-poucos, importam muito pouco esses detalhes: importa o tempo com o cara ser legal, o cara saber falar contigo e escutar tuas idéias. O coroa faz isso muito bem (até melhor que o garotão). Ótimo. A novinha num vai se preocupar com a hora que ele chegou ou com se ele está bebendo muito e falando merda.

Aí, vc quer se ajustar aos novos tempos igual ao cara? Mude. Não junto com o cara, porque, bem, isso seria triste. Mude na paralela do cara. Mude pra você, pra as coisas serem mais simples e, portanto, menos chatas. Aliás, eu espero começar a ver o fenômeno das coroas que procuram os rapazes mais jovens! Por que não? Chegar em casa e ver aquele lanzudão esparramado, vendo jogo de futebol NÃO PODE ser legal. Vamos nos despindo de certos preconceitos, por favor, e abrindo os olhos pro que a gente quer - e merece. Manter relação porque ela já está pronta pode ser fatal. Os caras, evoluídissimos nesse ponto, sabem que estar com alguém é uma escolha diária, enquanto a mulherada segue achando que só precisou decidir no dia do "sim".

Eu só me lembro muitíssimo de Dolores Duran, em "Fim de caso", traduzindo precisamente o medo feminino do fim de relacionamentos, quando ela diz: "Tenho pensado, e Deus permita que eu esteja errada, mas eu estou, ah, eu estou desconfiada que o nosso caso está na hora de acabar". Aí já acabou faz é tempo. E Deus num tem mais nada a ver com isso - Ele ficou ali, na hora da igreja, quando vc disse "sim". Aliás, quando um padre me perguntar se eu aceito meu namorado "como legítimo esposo, para amar e adorar pelo resto da minha vida", eu pretendo dizer um "sim" bem sonoro, e esclarer, baixinho, pra ele, que "até amanhã, no mínimo, tá seguro". Daí pra frente, é comigo e com ele. O dia seguinte pode, quem sabe, trazer outra resposta pra essa mesma pergunta. Tanto minha como dele e, pra mim, é bem assim que deve ser pra garantir muuuito mais que amor: dias tranquilos.

Aí mora a bronca: a mulher, em casa, dizendo "mas vc prometeu ficar comigo na alegria e na tristeza" e enchendo o saco na saúde e na doença, e toda uma geração novinha com pensamentos tão mais leves e confortáveis... e povo continua achando que é o fetiche da Lolita que leva os caras. Eu quase me ofendo! =]

Rafa
@rafaelamorais