sexta-feira, 25 de março de 2011

What's in a face?

Eu escutei uma música esses dias (novamente, eu prefiro não estabelecer créditos, para não acharem que eu indiquei) que dizia: "Case comigo. Se eu conseguir a coragem de dizer 'Oi' para você neste café... Diga que sim". A música é fraquinha, o resto da letra também, mas, honestamente, me agradou demais essa ironia: o cara nem conhece e já está crente que é a mulher da vida dele! E acontece demais, viu? Só que, quando o cara chega junto, e a mulher diz aquelas besteiras, ele pode pensar: "Opa. É aqui que eu vou amarrar meu burro?". Fiquei pensando, então, na coisa do amor à primeira vista - e, também, na constatação posterior (que nem sempre é tão rápida quanto nesse exemplo do cala-a-boca-doida) de que a pessoa não é tudo (ou nada) do que você esperava.

É tão fácil ligar romance a amor à primeira vista, não é? O maior romance de todos os tempos, você sabe qual, é um caso desses. Pode me chamar do que quiser, mas eu não acredito nisso mesmo. Aposto que Romeu num aguentava Julieta nem um ano, se num tivessem terminado antes mesmo de começar. Julguemos: mimada, respondona e, por vezes, abestalhada. Só de longe mesmo, assim, à primeira vista. E Romeu também tinha lá seus problemas, hein? Para começar, era assustadoramente intenso. A médio prazo, isso resultaria, provavelmente, num ciúme desenfreado. Aliás, freio era algo que o rapaz tinha pouco: inconsequente e audacioso como ele só. Imagine conviver com uma joinha dessas... O fim de Julieta, seguramente, foi mais indolor.

Aí, eu me pergunto: o que leva uma pessoa a crer que outra é perfeita para ela só de olhar? Química? Ok, pode ser. Química conta e é meio inexplicável mesmo. Mas, essa química, a gente sabe, tem prazo de validade. Aliás, a própria Química também tem. Sabe por quê? A explicação vale tanto para a palavra iniciada por minúscula quanto para esta com maiúscula: porque a gente evolui. Nós observamos o tempo todo, mesmo que sem querer, fazemos novas descobertas e aprendemos coisas novas - coisas estas que vão mudar a maneira como víamos o mundo antes. É assim com a ciência e com os nossos relacionamentos. Então, concluimos, na química (ou Química), a gente não pode confiar cegamente e atemporalmente (se isso for uma palavra).

Não me entenda mal. Eu sou completamente a favor do ciclo olhou-gostou-levou. Mas, PRA SEMPRE? Muita calma nessa hora. O que vai determinar se uma pessoa vai ser seu grande amor, na minha humilde opinião, não é sua primeira impressão - é a sua última. Exemplifiquemos: imagine o cara que acorda todo dia com uma mulher descabelada, num puta mau humor, e não consegue pensar "Ah, mas ela é aquela pessoa maravilhosa que eu vi pela primeira vez naquele café...", porque é obrigado a pensar "P*** que pariu... Que mocréia é essa?". Isso é amor? Não. O nome disso é convivência - e muito da mal sucedida.

Eu acho que, antes de amar, a gente tem que conhecer. É condição sine qua non. Paixão à primeira vista já seria uma expressão mais apropriada... Mas, para comprar essa ideia, é preciso admitir que paixão tenha muito mais a ver com aparência do que a gente gosta de acreditar. Se admitirmos isso, muito bem, eu posso defender a coisa da paixão à primeira vista.

Eu acredito é em amor à primeira vez. Calma: amor às primeiras vezes, eu deveria ter dito. Amor à primeira briga, amor à primeira viagem, amor à primeira crise financeira, amor à primeira noite sem dormir, e daí em diante. Para ser amor, inclusive, essas primeiras vezes não devem acabar nunca. Romântico não é fitar alguém em uma festa e dizer: "Vou apostar" - isso, para mim, é kamikaze. Romântico é olhar para alguém, todos os dias - seja feio, sujo ou chato - e ver o que a pessoa realmente é, pensando: "Apostei certo".

Eu só acredito em amor à primeira vista em maternidade, quando um pai olha para um bebê e se apaixona, sem se importar com as broncas que virão (mãe nem vale, porque já passou nove meses convivendo com o rebento). Posso admitir, também, alguns casos isolados na adolescência, porque, bem, erros devem ser cometidos. Fora a isso, Shakespeare que me desculpe, mas convivência é fundamental - só que vende menos e vive em falta!



Rafa
@rafaelamorais