sexta-feira, 21 de maio de 2010

A evolução da espécie

O título é polêmico, então, vou entrar logo na discussão. Fazendo um passeio mental, aqui, pelos últimos anos, eu me dei conta de que algumas coisas mudaram bruscamente. Entre elas, está o peso que a beleza de uma pessoa tem na hora da conquista. Ok, vou refazer: o peso que a beleza de uma menina tem, na hora da conquista. Porque, afinal, nós, mulheres, sempre fomos muito generosas... Beleza nunca foi - e dificilmente será - um fator na nossa escolha. Somos, de fábrica, menos objetivas, mais convencíveis, digamos assim, por uma boa lábia.

Já os meninos... Mas, calma. Isso era antes. Na nossa adolescência, beleza parecia ser praticamente o único fator de escolha dos meninos. Aquela era uma fase de afirmação, de aparências, então, nada mais normal que os meninos quererem algo estético, óbvio, para (se) mostrar aos demais. Esses mesmos meninos tiveram lá seus relacionamentos com as mais bonitas. Tiveram, também, seus problemas durante o relacionamento com tais meninas. Não que as mais belas signifiquem qualquer problema, absolutamente. O problema estava na escolha em si, que supervalorizou um critério que, no dia a dia, ajudava muito pouco o relacionamento a ser legal, a dar certo. Eis que a ambição dos rapazes passa a ser, então, uma boa namorada - em vez de uma namorada boa.

Aí, passam-se muitos anos. Chegamos à Faculdade, que é, na maioria das vezes, uma época de tentar de tudo, abraçar todos os momentos, achar que quer e pode o que for, etc. Critério, aí, eu acho que existe muito pouco - ou muito raramente (alô, lésbicos). Passada essa nova fase, de muitas descobertas e muitas noites sem dormir, chega a vida real. O dia longo no trabalho, o acordar cedo de manhã com muito pouca disposição, o tomar banho ainda meio dormindo, o querer ficar em casa na sexta à noite pra matar o cansaço da semana... Pode se juntar a isso o fato de sempre haver os amigos que tomam rumos diferentes do seu, ou, até, os que já não são mais os mesmos, se afastam, casam, tem filhos. O pedaço do dia que deve ser, de fato, prazeroso já não é tão grande e já não pode, portanto, ser desperdiçado. Nessa fase, aparecerão muitos critérios. Isso, inclusive, é uma percepção minha recente, afinal, só agora os rapazes com quem convivo estão, ou se aproximam, deste marco.

Esses jovens estão, agora, em busca de uma certa tranquilidade, da construção de um futuro que já está tomando seu rumo no trabalho e já está encaminhado na parte intelectual. Ou seja: sobra tempo para escolher - mas, ao mesmo tempo, há pressa em ser bem sucedido na escolha (como no trabalho).
Engraçado é que meus amigos que querem encontrar a mulher ideal (e, aí, notemos que ela já não é a mais linda nem a mais disposta, digamos assim) não se dizem preparados para casar agora. Claro, suas vidas estão caóticas, eles estão cansados, estão batalhando no dia a dia ainda. Mas querem uma mulher excelente. E a querem agora. Minha pergunta pros rapazes, portanto, sempre é o que eles farão com ela, se a encontrarem já: se não vão querer/poder casar, e ela é o padrão ideal para isso, como vão continuar com ela? Se ela for tão boa quanto eles querem, as chances são que haverá uma bela lista atrás dela também... Ou seja, correm um sério risco de perdê-la e voltar à estaca zero.

Os moços, no entanto, não me parecem querer, de fato, ter a mulher ideal agora. Eles querem, na realidade, saber que ela existe. A pressa mora aí. Eles perderam tanto tempo com escolhas pouco criteriosas (mas, justificáveis, claro, apenas distantes do que eles precisam hoje), que já não sabem se, agora que eles mudaram, vão encontrar o que querem, se essa mulher realmente existe. Daí a pressa em obter essa resposta. O que os rapazes querem, bem como querem em seus trabalhos, é garantir seu futuro, certificar-se de que as coisas sairão exatamente como eles imaginam que elas devem sair (aliás, é válido perceber que essa é uma fase em que os meninos projetam mais que as mulheres - tá bom, nem tanto... digamos que essa é a fase em que os meninos, simplesmente, projetam, algo que não costumava estar na rotina deles).

Lembremos que existem, claro, aqueles que não saíram nem sairão da adolescência. Aqueles que continuam precisando se afirmar, como na adolescência, ou se saciar, como nos anos dourados da faculdade. Mas eu costumo dizer às minhas amigas: "Mas esses, galera, são os que a gente já não quer, de todo jeito. Então, por que se preocupar com eles?". Então, voltamos aos que merecem ser compreendidos: no geral, os meninos passam para a vida adulta com uma evolução incrível e to-tal-men-te diferente do processo das mulheres (esse é bem simples: a gente vai de querer o príncipe encantado - lindo, destemido e viril - pra querer o marido encantado - inteligente, fiel e amável).

Para as que perdem tempo reclamando dos rapazes, quero deixar claro que a mudança chega, meninas, não tenham dúvidas. E tiremos o chapéu para eles, porque, se os subestimamos em algum momento, eles nos dão um banho de evolução a partir daqui. E, claro, aproveitemos para aprender com eles, gastemos menos tempo com ilusões e padrões midiáticos do que devemos ser para conquistar um deles. Uma cabeça boa pode te valer muito mais, agora, que um guarda-roupa ousado... Amém.


Rafa
@rafaelamorais