quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A teoria do rádio

Numa das conversas de bar mais produtivas da história, o tópico era a estranha forma como meninos decidem: "agora, vou namorar". Para mim, existe um controle supremo da vontade dos rapazes, uma espécie de interruptor com os modos "solteiro" e "namorando", e, de repente, os meninos ativam o modo namorar. O surpreendente, no entanto, é que eles, aí, de fato, namorarão. Namorarão, inclusive com (quase) qualquer mulher, isto é, com alguma que nem é tudo o que eles gostariam. Parece que o que importa, na verdade, é a escolha de namorar, e não a escolha da namorada. Eis que, esclarecedora como dificilmente saem histórias de meninos, a alegoria do rádio me explicou esse fenômeno.

Imagine um menino escutando rádio no seu carro. Ligou, e está tocando, pensemos, axé. Axé ele não curte. O IDEAL seria que tivesse Beatles em alguma estação, mas ele sabe que isso é difícil. Começa a mudar de estação, pra ver as opções. Passa por forró, algum pagode, brega-baixo-nível, reggae, sertanejo, techno... De repente, tem Lenine em alguma freqüência. É, Lenine não é o ideal, não é o que ele queria, certamente não é Beatles, maaaaass, a verdade é que ele já está cansado de mudar de estação. Cansou, quer parar um pouco, aproveitar o tempo escutando uma música inteira, sabe? E Lenine não é dos piores, né? É, aliás, bastante aceitável. Parar em axé, forró, pagode, seria demais pra ele... Mas Lenine dá pro que ele quer.

Pronto. Meninos escolhem namoradas assim: querem parar um pouco a putaria insana, que, no começo é sempre genial, mas vai ficando cansativa com o tempo, e aproveitar um pouco da tranquilidade que um relacionamento pode oferecer. Aí, como é difícil aparecer uma menina-Beatles, principalmente assim na hora que ele decidir, com o interruptor ligado no modo namorar, ficarão com as Lenines que apareçam (que não são das piores, mas também não são as ideais).

Reconfortante, por um lado. Todas tem chance, não é? Eu diria, até, democrático. Por outro, no entanto, a escolha pode ter muito menos a ver com você do que com o momento dele. E isso pode trazer alguns riscos no futuro. Por exemplo: eu me pergunto se não seria por isso que homens casam, tem filhos, vivem alguns anos, e vem a famosa crise da meia idade. Afinal, ele num casou porque gostava da menina, nem porque achava que poderia conviver bem com ela, casou porque estava na hora de casar. Daí, volta a necessidade da putaria intensa, seguida pela volta da necessidade de procurar uma Beatles. Provavelmente, cansarão da procura outra vez e ficarão, nessa fase, com qualquer Babado Novo.



Rafa
@rafaelamorais