sábado, 16 de julho de 2011

Como assim, Bial?

Eu estou com um pouco de medo de escrever este post, devo confessar. Eu tenho muito orgulho da cara de paisagem que eu aprendi a fazer e não queria perder essa ferramenta, por assim dizer, por nada neste mundo. Meu medo é, claro, que as pessoas leiam, aqui, a minha estratégia e sejam capazes de reconhecer, facilmente, em mim, a minha oportuna cara de burra. Imagine: no meio de uma conversa, eu achando que estou arrasando com minha cara de desentendida e a outra pessoa pensando: “Tá se fazendo de idiota, né? Tô ligado”. Vixe. Perco minha carta na manga! Mas vou encarar esse desafio, a pedido das amigas. Eu sempre digo a elas que fazer cara de burra é uma arte e preciso acreditar no meu potencial (ai...) de superar até quem conhece a técnica. Aliás, falando nela, comecemos por aí.

Você, uma atriz. 
Antes de subir no palco e colocar a cara na frente dos refletores, a gente sabe que é preciso ensaiar. Uma cara de burra, como qualquer encenação, para ser aceitável, deve ser natural. Não prejudica se você conseguir até enfiar um certo charme blasé na coisa. E a principal dica é nunca, nunca, nunca exagerar na performance. Primeiro, porque as pessoas podem sacar mais fácil seu momento fingimento e, segundo, porque não é para ser taxada assim permanentemente, tá? Aposte na sua carinha sempre com moderação.

Uma arma para evitar conflitos.
Essa é a principal indicação dessa técnica. Tem dias em que você, simplesmente, não está para discutir. Deixe a outra pessoa brigar sozinha. Faça sua melhor cara de paisagem e ligue o “um rum” que existe dentro de você. Meu limite é balançar a cabeça positivamente (um reflexo quando eu digo “um rum”, não sei porque). Isso eu não faço. Porque não é que eu concorde com o que o briguento está dizendo, óbvio, é só que eu não quero me envolver nem quero que ele fale por muito tempo. Então, é só o “um rum” e aquela tentativa sutil de mudar de assunto – de preferência para algo que a outra pessoa goste muito (altruísmo interesseiro é o nome disso... existe, ju-ro).

A burrice honesta.
Tem gente que, quando não está entendendo algo, fica rebatendo com argumentos furados, para ninguém perceber. Feio, né? E todo mundo percebe... Se você não entende do assunto que está rolando, ou entende muito pouco, não tente disfarçar. Sua cara de burra também está aí para isso (neste caso, muito honesta). Não há mal nenhum em ser humilde, é charmoso até, acredite. Deixe claro que não está entendeeeeeindo no seu rosto e mais claro ainda fazendo perguntas que mostrem interesse (por mais que ele nem exista taaanto). O povo gosta de falar – e gosta mais ainda de palestrar. Faça esse bem para a outra pessoa – e se saia bem, como uma curiosa, interessada, e não como uma desinformada por opção.

Parte da convivência social.
Mas tem gente que engata uns assuntos que, meudeusdocéu, num valem sua participação, né? E cansam. Essa é a hora da cara-de-burra-fingimento. Porque o que não cansa (vamos conversar sobre isso a seguir) é fazer sua carinha de desentendida. Ao invés de ser chatíssima e tentar mudar de assunto bruscamente, canse a outra pessoa. Aposte nos “um rum”, faça muitas perguntinhas e, entre uma pausa e outra, solte um “Isso eu não entendi bem”. Aí, você desliga depois de cada “um rum”, ou de cada pergunta, e repassa seu dia, sua próxima semana, aquele filme que você viu no dia anterior ou sua lista de compras na sua cabeça. Perda de tempo zero. É só um exercício de paciência e...

Exercício bom não cansa. 
Opa. Você pode até ter discordado desse título. Já lhe imagino pensando: “Lógico que to-do tipo de exercício tem que cansar... No pain no gain”. Mas pense melhor... Entendeu? Não é verdade? Então. Sua cara de burra deve ser um exercício prazeroso, ela te traz tantos benefícios, um final feliz... focalize nisso.

Conclusão: ser mulher é mais legal. 
Me perdoem, rapazes, mas a cara de burra funciona muito melhor quando se é mulher. Não que vocês não possam dominar essa técnica, mas é que é muito mais difícil um homem parecer burro e isso ser um charminho. Mas, para vocês, mulher deficiente (eu digo isso carinhosamente, sempre) tem um quê de desprotegida, de inocente... Ou seja, não só “aceitável” como “interessante”. Homem não é mais charmoso por ser lentinho... Isso porque nós, mulheres, somos bem mais chatas e vocês, claro, são bem mais evoluídos [faz cara de burra e corta para a tela preta].


Rafa
@rafaelamorais